Para que?
Há uma centena de boas razões para justificarmos o fracasso dos nossos relacionamentos.Queremos liberdade e exclusividade, queremos independência e colaboração, queremos paixão e segurança, queremos fidelidade e autonomia, queremos respeito e satisfação, queremos tudo e temos que dar tudo.Apesar de todas as contradições, idiossincrasias e estranhezas dos nossos comportamentos, um dos maiores problemas que enfrentamos para mantermos nosso amor, senão o maior deles, é que não cultivamos mais o "para que" em nossos relacionamentos.Nós namoramos para que? Nós nos casamos para que? Nós vivemos e sobrevivemos para que? Nós nos aproximamos alguém para que? Nós brigamos com alguém para que? Nós ofendemos alguém para que? Nós ficamos com alguém para que?O "para que" é a resposta para nos ajudar a "a inventar jeitos de amar menos desafortunados e mais interessantes", como queria o psicanalista Calligaris num dos seus artigos.O problema do infortúnio e da falta de interesse no amor é a falta de "para que".O " para que" é algo concreto. O "para que" é um objetivo material (não necessariamente financeiro, mas material que exista em matéria). O "para que" é um fim. É a meta de um caminho. O "para que" é o resultado que duas pessoas perseguem juntas e que fazem as duas ficarem juntas, se realmente ambas procuram o mesmo "para que".Hoje nós namoramos e não sabemos "para que". Casamos e nem temos idéia do "para que". Ficamos juntos por algum tempo, e depois quando terminamos ficamos com a impressão de que não teve um "para que". Brigamos e não entendemos o "para que". Ofendemos o outro sem perguntar o "para que". Ficamos sozinhos (e sozinhos muito de nós estamos) porque não cultivamos o "para que".Uma coisa é importante distinguir. O "para que" não é o "por que". O "por que" é quase tudo que se inventa de desculpa, é o motivo, é a crença, é a vontade, é o sentimento, é idéia, é o pensamento, é o que preenche nosso coração e nos incentiva a seguir em frente.Mas o "para que" é o “para onde” vamos seguir em frente.Imagine um barco com uma vela enorme, mas sem leme, no meio do oceano. O “barco” somos nós, a “vela” são nossos sentimentos (nosso "por que"), o “leme” é o nosso objetivo (nosso “para que”) e o “oceano” é nossa vida ou nosso relacionamento.Esse barco, que tem uma vela mais que suficiente para seguir em frente é polpa, potência e força. Mas sem leme ele não vai para lugar algum. Ele gira em torno de si mesmo. Ele fica sujeito às intempéries do oceano, ele simplesmente naufraga. Assim como tem naufragado nossos relacionamentos.Para o relacionamento não basta o amor, não basta a paixao, não basta o sentimento, para o relacionamento seguir em frente é preciso que tenhamos com o outro um leme, um norte, um objetivo concreto, algo que lá na frente justifique o caminho e que nos faca querer ficar com o outro para realizar aquele o objetivo.Para o relacionamento funcionar, podemos, então, e se isso for importante para nós, podemos encontrar algum "para que".Serve qualquer "para que".Serve o objetivo de ter filhos. Serve o de ficarmos milionários juntos. Serve o de abrirmos uma empresa. Serve o de curtirmos (como objetivo) o cinema francês. Serve o de sermos adeptos de esportes radicais juntos. Serve o "para que" de cultuar o mundo dos motoqueiros, dos roqueiros, dos intelectuais.... Serve acabarmos a vida juntos, numa casa de praia, olhando o mar enquanto nos escoramos no ombro do outro. Serve aceitar o "para que" do outro como se fosse nosso. Servem tantos quantos sejam nossos objetivos em comum com quem amamos.E se aquele "para que" acabar, então, fiquemos atentos para criar rápido um novo. Porque senão, corremos o risco de olhar um para o outro e percebermos que não há qualquer outra razão para ficarmos juntos.Porém, se, infelizmente, já não tivermos outro "para que", então vamos procurar um outro com outro alguém, porque há um considerável numero de pessoas que também estão buscando os mesmos objetivos que nós e também estão ansiosos para compartilhar no caminho todos os sentimentos que podemos trocar e desfrutar com o outro.E o amor? E a paixão? E o sentimento? Eles são polpa, são potência, são força. Eles são tudo que nos motiva a seguir em frente. Então, sinta tudo, viva seu sentimento, desfrute ao máximo, mas não perca de vista os propósitos, os objetivos, não esqueça do "para que".A chance dos nossos relacionamentos durarem é muito maior.
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