13/12/2008

A mão e a borboleta


Um dia ouvi dizer sobre uma história muito bonita sobre uma menina e uma borboleta. Não sei quem inventou a história, e por isso, deixarei o crédito da autoria à minha admiração que traduzo neste ensaio.

Diz a história, que um homem muito poderoso tinha uma filha muito esperta, ainda nova, mas muito curiosa sobre as coisas do mundo. Ele, preocupado com a educação da menina, soube que havia um mestre, um tipo de sábio vivendo no alto de uma montanha e resolveu levar sua filha para estudar e aprender com o sábio tudo que ele pudesse lhe ensinar.

A menina foi e desde o primeiro dia que chegou começou a perguntar ao sábio tudo que sua curiosidade mandava. “Sábio, o que é isso?” E o sábio respondia. “Sábio o que significa aquilo?” E o sábio explicava. E assim passaram os dias. Mas a menina estava ficando muito incomodada com as certezas do sábio e quando viu uma borboletinha voando sobre o jardim, teve uma idéia: “Vou segurar essa borboleta dentro da minha mão, e vou perguntar para o sábio se ela está viva ou está morta. Se ele disser que está viva eu a esmago com minhas mãos e ela morre, se ele disser que está morta, eu a solto e ela sai voando!” E foi ter com o sábio.

“Sábio, tenho uma borboleta dentro da minha mão, ela está viva ou está morta?”. O sábio olhando profundamente em seus olhos, e com ar complacente, respondeu: “Depende de você, ela está na sua mão”.

Pode ser que essa história tenha vários significados, mas, um deles me faz pensar sobre uma questão muito importante em nossas vidas, sobre o poder das nossas escolhas, sobre o poder de decidir sobre os caminhos que queremos seguir na vida.

Diante da vida, podemos escolher ser uma borboletinha, e ficar nas mãos das pessoas, dependendo do arbítrio delas, dependendo das escolhas dos outros, e deixando que a decisão de “viver ou morrer” permaneça na mão dos outros e das nossas desculpas. Podemos deixar que a nossa própria vida seja determinada e decidida pela vontade do outro, e assim, permaneceremos como uma borboletinha fraca e oprimida.

Mas também, se quisermos, podemos nos tornar a mão que conduz nossa própria vida, podemos ser as pessoas responsáveis por nosso destino, podemos ser os donos das nossas escolhas, enfim, podemos abandonar a postura passiva e dependente para elevar nossa vontade e nossas decisões como as únicas maneiras positivas de conquistarmos os objetivos que traçarmos em nossas vidas.

Parece tudo muito simples na teoria, mas se prestarmos um pouco de atenção, perceberemos que por inúmeras vezes nos tornamos borboletinhas nas mãos das outras pessoas e das dificuldades.

Não é raro ouvirmos alguém dizer: “Ele não me faz feliz”, ou “Eu dei meu amor para ela e agora perdi tudo que tenho”, ou “Não consigo fazer porque não tenho tempo”, ou “Fracassei porque as circunstâncias não eram favoráveis”, ou quais forem as infinitas desculpas, subterfúgios e motivos que nossa imaginação for capaz de inventar para justificarmos as conseqüências das nossas próprias escolhas.

Todas as vezes que deixamos ao outro, ao tempo, às circunstâncias, ou a qualquer outro bode expiatório das nossas desculpas, a responsabilidade das conseqüências das nossas escolhas na vida, todas essas vezes estamos nos transformamos em borboletinhas nas mãos dos outros ou da nossa própria mediocridade.

É muito mais fácil dizer que a responsabilidade das nossas escolhas é do outro do que admitir que agimos mal, que exageremos no ritmo, que escolhemos precipitadamente, que fomos ansiosos, que não planejamos bem, que arriscamos demais, que pela razão que for, pela desculpa que for, que não temos responsabilidade sobre nossos atos.

E cada vez que fazemos isso, continuamos uma borboletinha em nossa própria vida, refém das nossas inúmeras desculpas, prisioneiros da nossa consciência resignada e vítimas de nossas próprias escolhas. Esse é um caminho a seguir, se é isso que nos conforta o coração.

Mas há outro caminho, há o caminho que nos torna pessoas mais fortes, mais convictas, mais seguras, mais firmes e mais capazes.

Abandonar a postura da borboletinha para assumir uma outra posição realmente nos traz e nos faz retomar algo que é essencial para desfrutar de todas nossas possibilidades, que é o nosso poder.

O poder de sermos os responsáveis por nossas escolhas. O poder de doar e oferecer nosso amor e nosso carinho a quem quer que seja de maneira livre e espontânea, sem querer nada em troca, dar pelo simples fato de dar, dar pela maravilhosa experiência que é compartilhar com alguém os incríveis sentimentos que temos em nosso coração. O poder de aceitar que às vezes escolhemos mal. O poder de não admitir que alguém nos transforme naquilo que não somos. O poder de não aceitar pagar os preços mais sórdidos e mesquinhos pelas coisas mais insignificantes. O poder de dizer “não”, e dizendo “não” sermos capazes de nos manter íntegros em nossas convicções e crenças. O poder de nos transformar na mão que conduz nosso próprio destino, na mão que nos carrega e nos faz lutar por nossos objetivos e sonhos.

Não pretendo fazer qualquer julgamento sobre o caminho que cada um de nós resolveu seguir, porque todo caminho é um caminho possível, e cada caminho tem seus próprios preços, suas próprias conquistas e suas peculiaridades, mas por um momento, se quisermos, podemos deixar de viver à sombra de nossa própria mediocridade, fraqueza e omissão, e podemos, porque temos esse poder, podemos assumir nossa vida e nossas escolhas com nossas mãos, com toda nossa força, coragem, determinação e plenitude, de uma maneira firme, independente, consciente e absolutamente segura de que, seja o caminho que for, continuaremos donos e responsáveis por nossas chances e oportunidades, e que nossos sonhos não serão um objetivo inalcançável, mas serão sempre uma possibilidade e uma esperança.
(Por Michel Cutait)

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